sexta-feira, 1 de junho de 2012
Revista PENSAR A PRATICA Artigo Cientifico Sobre Capoeira
ESTILOS DE ENSINO E A INICIAÇÃO DA CAPOEIRA PARA CRIANÇAS DE 7 A 10 ANOS DE IDADE
Vinícius Heine*
Michele Viviene Carbinatto**
Myrian Nunomura***
RESUMO
O presente estudo é uma revisão crítica de literatura cujo objetivo é analisar a aplicabilidade do espectro de estilos de ensino proposto originalmente por Muska Mosston no processo de iniciação da Capoeira para crianças de 7 a 10 anos de idade. Desta forma, procura-se ampliar a base teórica que orienta os profissionais que estão à frente desse processo. Verificou-se que os principais estilos de ensino – comando, tarefa, recíproco, individualizado, descoberta orientada e solução de problemas – são aplicáveis ao processo de ensino-aprendizagem da iniciação à Capoeira e que oferecem elementos consistentes para a orientação da prática de ensino dos professores que atuam com essa atividade.
PALAVRAS-CHAVE: Capoeira – Estilos de Ensino – Infância
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a Capoeira vem passando por um processo de forte expansão da sua prática nas mais diversas instituições da sociedade, como escolas, academias, Universidades, clubes, centros comunitários e projetos sociais. Conseqüentemente, o número de adeptos tem crescido de forma vertiginosa. Em respeito a esse aumento de praticantes da Capoeira, as bases pedagógicas daqueles que estão à frente desse processo têm como referência a tradição, a boa vontade e a sensibilidade.
Normalmente, a formação dos profissionais que atuam no ensino da Capoeira ocorre no âmbito interno das Associações ou Grupos de Capoeira, e é direcionada pelo Mestre de Capoeira que lidera aquela instituição.
Cada Mestre possui uma filosofia, um critério, uma metodologia e um tempo mínimo para a formar seus instrutores e professores. Assim, as estratégias de ensino, os conteúdos, o processo de avaliação, a filosofia, o trato com relação à violência, a postura e a ética profissional, o respeito às tradições, entre outros temas essenciais na formação dos profissionais, são tratados de maneira bastante diferenciada em cada Associação e/ou Grupo de Capoeira.
Muitas vezes, não existe um processo formal e específico de formação desses profissionais. O praticante-aluno passa para a condição de professor através de critérios subjetivos adotados pelo Mestre.
Assim, não raras vezes, as oportunidades que têm surgido no mercado de trabalho são atendidas por profissionais com pouca qualificação e com formação deficiente, especialmente no aspecto pedagógico. Na maioria das vezes, são práticos, que sabem como fazer e dominam os conteúdos técnicos da modalidade. No entanto, o processo de ensino exige muito mais conhecimentos, além do técnico.
Dentro dessa realidade, um processo de tentativas e de erros se inicia, o qual pode colocar professor e alunos em risco. O primeiro poderia se desmotivar ou perder a oportunidade de trabalho devido às práticas incoerentes e, os alunos, poderiam perder o interesse pela prática, sofrer lesões físicas e psicológicas, e até criar aversão pela modalidade. Desta forma, a Capoeira como um todo poderia ter sua imagem desgastada frente à instituição e à sociedade em geral.
Assim, associar conteúdos teóricos tradicionais à prática de ensino da Capoeira é uma tarefa essencial para o desenvolvimento dessa modalidade dentro das instituições que, a cada dia, abrem suas portas e oferecem oportunidades para a Capoeira demonstrar o seu potencial como instrumento de melhoria das condições sociais, educacionais, culturais e da saúde da sociedade.
Nesse sentido, a base teórica desenvolvida por Muska Mosston e, mais especificamente, o espectro de estilos de ensino é um instrumento significativo para a elaboração e diversificação das estratégias de ensino utilizadas pelos profissionais da Capoeira.
A INICIAÇÃO NA CAPOEIRA
Como deveríamos orientar o processo de iniciação na Capoeira para crianças entre 7 e 10 anos de idade?
Certamente, deve-se pensar no desenvolvimento integral dos alunos, em que os domínios motor, físico, afetivo, cognitivo e social sejam contemplados. Da mesma forma, é importante proporcionar uma ampla base de experiências nos diversos conteúdos que integram a Capoeira (movimentos, músicas, ritmos, instrumentos, história, tradições, rituais, entre outros), para que os alunos desenvolvam a apreciação e o envolvimento com a modalidade a curto, médio e, principalmente, a longo prazo (SILVA, 1993).
Os aspectos de motivação também são importantes, principalmente em se tratando de crianças entre 7 e 10 anos de idade, o aspecto lúdico, a aprendizagem de habilidades e o contato com os amigos são fatores determinantes da motivação dos alunos (HANLON, 1994).
Os praticantes devem experimentar satisfação e prazer nas atividades desenvolvidas. Para tanto, o professor trabalhará como elemento motivador e facilitador. De igual importância são as estratégias de ensino selecionadas, as quais visam facilitar a aquisição do conhecimento por parte dos alunos (FREITAS, 1997).
As estratégias de ensino serão elaboradas a partir dos conteúdos específicos da Capoeira, dos materiais pedagógicos, das formas de comunicação, de modelos de organização da turma e, especialmente, dos estilos de ensinos adotados (GABBARD, LEBLANC; LOWY, 1994).
Assim, conhecer as características gerais das crianças na faixa etária em questão, dominar a técnica de execução das habilidades da Capoeira e elaborar estratégias de ensino eficientes são fatores primordiais para a obtenção do sucesso na aprendizagem.
A CRIANÇA DOS 7 AOS 10 ANOS DE IDADE
Entre 7 e 10 anos de idade, as crianças se encontram no período que se denomina Idade de Ouro da Infância, pois é a fase em que a aprendizagem de habilidades motoras está no auge do seu potencial de desenvolvimento, um período considerado crítico para a aprendizagem motora. Nessa fase, as crianças apresentam grande entusiasmo, são dinâmicas, alegres e apreciam o movimento (WEINECK, 1999). Elas apresentam ganhos de coordenação motora significativos. E há o potencial para a aprendizagem das principais habilidades envolvidas na Capoeira, desde as mais básicas até aquelas mais complexas. Ou seja, a prontidão física das crianças nessa faixa etária é ideal para a aprendizagem das técnicas básicas dos principais movimentos da modalidade (FREITAS, 1997).
Outra característica fundamental deste período, e que deve ser considerada no ensino da Capoeira, é o gosto das crianças por tarefas que representem desafios (MEINEL; SCHNABEL, 1987) e que estimulem outras dimensões, e não apenas a motora. O elemento desafiador é importante na manutenção dos níveis de motivação e podem ter impacto sobre as decisões futuras em respeito ao envolvimento com atividades físicas e práticas esportivas.
Continuar a leitura FONTE http://www.revistas.ufg.br/index.php/fef/article/viewArticle/5174/4735#
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário